sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nem tudo é um mar de rosas. Não podem dizer que por termos amor, temos tudo mais facilitado. Não. Temos é uma visão mais "cor de rosa", uma visão mais suave das coisas. Isso faz-nos pensar que é mais fácil, mas não é. Temos outra disposição para as fazer, temos algo que nos faz querer lutar por elas. Quando andas de mão dada na rua, não sentes que o mundo é um pouquinho mais teu? João sentia. Quando beijas a pessoa de quem amas, não sentes que a realidade é um pouco fantasia? João sentia. E quando sussurras ao ouvido, não sentes que aquilo podia ser eternamente? João sentia.
O amor transforma muitas coisas mas não as torna mais fáceis. Era, o passado de João, prova disso. O casamento foi uma transformação. Transformou sorrisos, transformou respeito e acima de tudo, transformou sentimentos. Era um enigma na sua cabeça mas o amor transformava tudo. Simples e como a ex-mulher queria. João transformava tudo a gosto do amor. Até que o amor deixou de existir. Há transformações que matam o amor. Como se matassem um coração indefeso mas que se defende, desistindo daquele amor que o consome em transformações. Culpem as transformações que o amor proporciona. Esse foi o motivo do divórcio.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Hoje o meu filho passou o dia comigo. Ele torna a vida tão alegre e tão simples. É estranho ter um ser com o mesmo sangue que eu. Tão pequeno mas que já me fez crescer e me ensinou tanto. Tentei ensina-lo a dar os primeiros passos. Agarrou-me o dedo com força e deu pequenos passos. Cansou-se tão depressa. Os olhos dele seguem-me para todo o lado mas já me troca por cubos coloridos. Brincou durante muito tempo no chão da sala mas sempre que sentia a minha ausência durante mais do que cinco minutos chamava por mim, chorando. O Gabriel é muito carinhoso e quando pego nele ao colo da-me imensos abraços. Já se ri muito. Não digo à mãe dele mas acho que tem o meu sorriso. 
Gostava de o ter todos os dias comigo. É um dia mais alegre, mais cheio de vida quando está comigo. E torna mais fácil eu conseguir soltar as palavras na folha. "
Hoje João escreveu. Hoje, assim como nos últimos meses, João escreveu sobre o filho. Há algo de fascinante nesta relação. Há algo em João de diferente desde que Gabriel nasceu. Um dia, eu explico. Ou talvez João o faça. 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Há sonhos de todos os tamanhos e de todas as cores. Há sonhos que conseguimos realizar, mais cedo ou mais tarde. Há outros, contudo, que parecem destinados a serem postos de parte... Ou porque não somos tão bons como deveríamos ser ou porque, simplesmente, nos sentimos pouca disposição para partilhar aquilo que mais de sagrado temos na vida.

Os sonhos são de facto algo fantástico. João tinha muitos. O curso na área em que sempre pensou trabalhar era um deles, obviamente. Contudo, havia algo que o fascinava acima de todas as outras coisas. Algo que o fazia tremer, chorar, rir, sofrer, pensar, ver... João amava ler e, acima de tudo, escrever. Não coisas elaboradas... histórias, romances... esse não era definitivamente o seu forte.

Ele apenas ansiava pelo momento em que se sentava à secretária, em que tudo à sua volta escurecia mas tudo parecia ter sentido. As palavras fluiam e pensamentos eram postos em papel. Folhas e folhas de textos com poucas linhas...dez, quinze, aproximadamente. Era aquilo que o fazia viver. A família, o filho.... faziam-no sentir, assim como a mulher que amava naquele momento... Mas o que o fazia viver era aquele curto espaço de tempo em que podia ignorar tudo o resto e, simplesmente, existir.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vamos fazer um jogo. Um jogo que, um dia, numa banal aula, me ensinaram. Quando alguém chegar perto de ti e te contar algo diz "quem disse?". É simples, só tens de interrogar a outra pessoa sobre "quem disse?". São boatos que acabam com sorrisos. Então, vamos jogar ao jogo do "quem disse?". E vais perceber que, no final de contas, foi alguém que disse a alguém que disse à pessoa que te contou. E já está tudo mudado. O que era um assunto de 3 palavras já é uma história com principio, meio e fim. Deixem-se disso. É tão fácil ouvir e relatar, acrescentando mais uma coisinha. Maldade. Nada mais que maldade. Pessoas mesquinhas é que o fazem. 
Vamos jogar ao "quem disse?". Quem disse que João tinha um caso extra conjugal? Quem disse que a mulher o apanhou na cama com a amante? Quem disse que ele já não queria saber do filho? Quem disse, afinal de contas, quem disse? Só eu o posso dizer. Sou eu quem escreve a história da vida dele. E é ele quem me pede para a escrever da forma que escrevo. Ele usa o meu dedo como caneta e escreve a vida dele. E quem disse que ele não o pode fazer? Quem disse? É o jogo do "quem disse?". Todos devíamos jogar, todos os dias. Quando um novo mexerico está prestes a atingir-nos, perguntemos primeiro "quem disse?". É tão simples.

domingo, 12 de junho de 2011

Houve tempos de magia, não faz muito tempo. Reis lideravam o seu povo com bondade e igualdade; príncipes tratavam os seus como irmãos. Sabedoria, empatia, generosidade. Eram valores presentes e, valores esses, dos quais o seu povo se orgulhava.
Houve tempos de trevas, também. Tiranos dominavam aqueles que consideravam os seus inferuiresm roubavam o que já há muito tinha sido levado. O último passo parecia o roubo da última coisa que resta ao pobre dos mais pobres: a dignidade. Aquilo que qualquer ser humano tenta conservar até ao fim do seu último sopro.
Que tempo são os de hoje e, ainda mais importante do que isso, que tempos nos esperam? Seremos hoje senhores do nosso próprio destino?
A escuridão absorve-nos cada vez mais, dia após dia. Continuamos a caminhar junto da multidão de zombies, mortos-vivos que contestam, protestam e nada fazem para mudar aquilo que consideram tirano.
Poderia dizer-se que uma nova era se aproxima mas temo que esta seja a última que os nossos olhos irão presenciar

quinta-feira, 9 de junho de 2011

João tinha um objectivo: reatar estudos. Tinha o sonho de tirar engenharia civil e decidiu fazê-lo. Achou que isso  o ajudaria um pouco mais a preencher certo vazio que ficou nele. Mas errou. Pensamento errado, pensamento enganador. Já passaram duas semanas desde que começou a ter défice de rendimento no trabalho. O aproveitamento da universidade estava mau, muito mau e ele estava a enlouquecer. Há uma coisa que irrita qualquer estudante: estudar e não obter os resultados que esperava. É frustrante e João não estava menos do que isso. Prejudicava o trabalho e não tinha bons resultados. O sonho dele já se desmoronava por ser deparar com um cenário tão difícil. Algo plausível seria voltar a desistir dos estudos e voltar a reaver o bom rendimento que tinha na empresa. Algo que não queria fazer era desistir de mais um sonho. Não podia desistir só porque estava a ser difícil. Todos temos vontades fracas, todos temos o tendão de Aquiles. João pensava ter descoberto o dele quando, no seu maior esforço, o trabalho e o estudo se desmoronavam. 
Não eram muitos os sonhos de João depois do divorcio. Já passaram meses e apenas arriscou no seu sonho de adolescente. Não estava triste com o curso que tirou na idade propicia mas, ambicionava atingir o objectivo que se propôs aos vinte anos, quando percebeu que civil era o que realmente gostava de fazer. Percebeu então que, talvez, não queria o destino que ele tirasse aquele curso. Mas trata-se de João. E João gosta de contrariar o destino. Não desistiu e estuda cada vez. Um dia alguém disse "O teu esforço será reconhecido". Sabem? João acreditava nisso e aí encontrou a força e o motivo para não desistir.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Se o objectivo de vida fosse ser feliz, cada um de nós estaria condenado ao insucesso. Contudo, um dia também, todos voltamos a ter esperança. Às vezes, mais cedo do que esperavamos.
Há uns dias, morríamos de ciúme e pensavamos que não havia real objectivo nesta vida. Depois, sem passar muito tempo, um olhar, um sorriso... muda algo em nós. Óbvio que não faz desaparecer o sofrimento, mas, com certeza ajuda a que, aos poucos, o ódio nos deixe repousar por algum tempo, e nos permita voltar a ser o que éramos. E, independentemente da forma como éramos, aquilo em que nos tornamos perde em tudo, excepto na quantidade de ódio, desprezo e sofrimento que possuimos.
Ser feliz, então, torna-se uma miragem. Deixa a raiz do impossível e passa a viver junto do improvável. As memórias não trazem tanta dor, apenas o formigueiro que ainda viaja connosco. Mesmo aquele do primeiro amor, da primeira verdadeira amizade,
Sentimentos... coisa difícil de interpretar!
Nunca se sentiu tão livre como agora. Apesar de dedicar todas as suas noites a tentar saber algo do filho, ele tinha agora uma liberdade fantástica. Era o comum solteiro na casa dos 20. Ainda jovem, ainda muito para aprender. E, ao mesmo tempo, já com muito vivido. Era simples e básico. Não pretendia ter uma relação agora com a sua eterna amada. Não. Achava que estavam destinados a estar juntos e, até agora, tudo lhe indicava que sim. Mais dois meses, menos dois meses, pensava João. Estava a aprender o conceito de liberdade, há muito tempo esquecido. Estava a aprender a viver. Não que não o tivesse feito desde que casou mas não viveu da forma que quis. Era tempo de ser apenas mais um comum homem na sociedade. Mais um ser simples e banal. Era tempo de ser mais um rapaz de barba grande. Apenas ser o comum entre o vulgar e passar despercebido se na rua se cruzarem com ele dezenas de pessoas. Era tempo de soltar gargalhadas altas, de correr riscos (sem pôr em perigo a vida, por causa do pequeno Gabriel). 
Dizem que ser comum não é bom. Dizem que nos devemos destacar. Dizem que temos de ter uma característica tipicamente nossa. Dizem que devemos ser tudo menos vulgares. Neste momento, João quer apenas ser comum e vulgar.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Já não sei quantos dias passaram desde aquele último momento em que me senti bem, confortável com tudo o que me rodeia. Honestamente, deixei de contar há muito tempo. Principalmente, porque não vejo motivo pelo qual me deva continuar a preocupar.
Perdi muita da alegria que tinha em viver. É algo nada benéfico, de facto. Era, talvez, a característica que me fazia ímpar. Algo que marcava a diferença junto dos demais. Onde é que tudo isto me deixa?
Não. Nunca na vulgaridade. A vulgaridade é algo que se vê, que conseguimos vislumbrar em dois segundos. Basta entrarmos em sociedade e somos imediatamente sufocados pelo comum e ordinário.
Penso que esta situação me deixa mais junto das sombras, daqueles que tudo tinham para brilhar mas que, por uma razão ou outra, deixaram de ter motivos para o fazer. Brilhar, num mundo como este, já não tem a conotação de sabedoria, de genialidade. Hoje, quem sobressai nunca o faz por mérito próprio, e se alguém foge a essa regra é visto como não desejado e posto de lado.
Sim, a solidão. Nunca a falta de resposta foi tão agridoce.

domingo, 5 de junho de 2011

Dizem que "mais vale só do que mal acompanhado". Dizem "diz-me com quem andar, dir-te-ei quem és". É assim muito fácil, para os nossos avós. Cresceram com outra educação. Uma educação que nos tentam passar mas que a sociedade, em geral, corroí. Cada ruga nos rostos é sinal de um pequeno esforço a mais, de uma poupança bem gasta, de dinheiro que não se gastou em guloseimas só para os filhos não chorarem. Para os nossos avós, era assim, simples mesmo quando era complicado. Hoje, devia ser fácil e nós, a sociedade, transformamos tudo em complicado, em difícil, em dramático. Não se sabe o significado de poupar, de esforço e trabalho. Querem emprego sem trabalho e pior que isso, querem dinheiro sem emprego. 
João sabia dos esforços que tinha de fazer. Sabia das amizades que tinha de deixar de lado. Sabia das mãos verdadeiras que tinha de agarrar. João sabia que os tempos que se avizinhavam eram difíceis. E isso não envolvia só o divórcio. Era o divorcio que envolvia tudo o resto. Os olhares já recaiam sobre ele no trabalho. Marta era das poucas que ainda o ajudava. Mas evitava dar a entender que ainda o amava. Apenas Marta e Pedro continuavam ao lado dele. Era todos os dias chamado ao gabinete e, todos os dias, o motivo era ridículo. Cansava-se de dar passos em frente e andar para trás. Cansava-se de olhar para aqueles a quem um dia chamou de amigos. Cansava-se das palavras gastas em vão. Cansava-se, só isso. 

sábado, 4 de junho de 2011

Sofrer por amizade é algo vulgar. Tentar proteger um amigo é uma obrigação... senão não chamaríamos outrem de amigo mas sim de conhecido. Continuamos a caminhar pela rua da amargura enquanto vemos a pessoa a magoar-se, a cometer o mesmo erro pela centésima vez. Aconselhamos: muda, não repitas isso. Contudo, a teimosia é forte e o orgulho é inexpugnável. E, assim, ele/ela volta a cair.

Outra obrigação é a de estarmos lá quando a queda acontece. Lágrimas escorrem violentamente nas faces em que pomos sorrisos. Arrepiamo-nos e, eventualmente, choramos também: por amizade. Tudo parece já não ter sentido algum e, com muita tristeza mas, ao mesmo tempo, com muita força e perseverança, tentamos erguer o que já só quer ficar deitado, inerte.

Uma vez mais, conseguimos trazer o amigo de volta. Contudo, a teimosia e o orgulho continuam vivos e, curiosamente, mesmo depois de semanas de sofrimento, apenas aumentaram, fazendo com que a próxima queda seja inevitável e, infelizmente, ainda mais complicada de recuperar.

A pergunta natural seria a de o que fazer quando reerguer a pessoa já é uma tarefa impossível. No entanto, não há resposta para isso. A pessoa que amamos como amiga nunca mais voltará e resta-nos aceitar o novo amigo que temos. Sim, porque nós sabemos o que é amizade. É algo que pouco se vê mas é alto que muito se sente.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Há um tempo em precisamos de inventar uma linha invisível numa escala absolutamente estranha para o nosso organismo. Precisamos criar essa linha e colocá-la logo a seguir ao nosso nome.Será uma escala de preocupações. E o primeiro lugar seremos nós e só haverá um lugar no topo, o nosso. Nesta escala não há segundos e terceiros lugares. Somos só nós. 
Estava a chegar esse tempo para o João. Era tempo de criar a linha invisível. Com uma pequena diferença de que nessa escala estaria ele e o seu filho. Porque, depois de ver pela primeira vez o ser que transporta o seu sangue, nunca mais achou que estava sozinho no mundo. João sabia e sentia isso, como nunca sentiu nem sentiria mais nada. Criou a linha. Isolou-se, sem se isolar do filho. Cansado das reviravoltas que haviam na sua vida. Farto das partidas que ele próprio lhe causava. Pronto e decidido a viver por ele. Raramente, nos seus 25 anos, o tinha feito. Estava na altura de o fazer, de aprender a manter-se acima da linha. Não deve ser assim tão difícil, pensava João sempre que via o sorriso do pequeno Gabriel. Hoje por ele, para amanhã ser pelo filho. Era, é e será sempre o seu objectivo: pelo filho.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Fui ensinado de uma forma estranha, talvez. Tem de haver uma razão para eu ser diferente de todos os outros. Algo que me tenha mudado definitivamente e tão profundamente que eu nunca fui, desde esse momento, similar a nenhum outro.
Porque eu, mesmo sem saber porquê, ponho o sofrimento dos outros à frente do meu próprio sofrimento. A felicidade deles deve, penso, acontecer primeiro do que a minha. Aliás, se alguém merece ser feliz, são os amigos, não é?
E, quando, por acaso, a felicidade dos amigos depende pura e exclusivamente da nossa infelicidade? O que fazer então?
Bom, aí sim, entra a minha provável estranha educação. Uma espécie de ordem de valores foi estabelecida. Primeiro, a família. Segundo, os amigos. Terceiro, tu e tudo o resto.  Contudo, o que fazer quando o sofrimento é insuportável e as lágrimas já se esgotaram? Qual a solução?
Distância. Uns bons quilómetros de distância. E a lembrança de que, mais cedo ou mais tarde, daquilo sentiremos falta. Porque é assim que, infelizmente acontece. Sempre.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Há sempre algo, uma mínima coisa que todas as pessoas desconhecem. E se havia algo que ele desconhecia era que os seus amigos, na verdade, não eram seus amigos. Há decisões que nós próprios temos de tomar. Não podemos deixar a pergunta espairecer no ar, à espera que alguém a apanhe e lhe dê uma resposta. Não. Temos de ser nós a dar respostas a certas perguntas. E o divórcio, era só a ele que dizia respeito. Não podia pedir que decidissem por ele. Não podia e correctamente, não queria.
A vida dá muitas voltas, quem disse, um dia, que não dava? Ninguém. Porque, podemos voltar ao ponto de partida, mas a vida dá muitas voltas. E a vida dele estava a começar uma volta alucinante por um mundo desconhecido. E sozinho, apenas contava com ele e com ele. E com ela, talvez. A mulher por quem sempre esteve apaixonado. E a mulher que sempre o amou. Os amigos decidiram julga-lo. Por motivos que absurdamente não podiam ser justificados. Acusado das muitas coisas que podia ter feito mas que por respeito à (ex)-mulher e por amor ao filho nunca o fez. Estava sozinho e tinha de aprender a viver dessa forma. Conhecer pessoas para recomeçar a usar a palavra "amigo". 

Porque, na vida, as coisas sempre serão simples para uns mas sempre serão complicadas para outros.